O Universo é para Todos

Universo Paralello


por Carla Galo Em dezembro de 2004, minha filha convidou um grupo de amigos para passarem o natal conosco. Somos gaúchos e residimos na Bahia. A turma de amigos do sul chegou dias antes do natal com barracas de camping e acamparam em nosso pátio. A casa ficou uma animada festa. Eram quatro barracas e seis convidados. Mas o equipamento de camping não era especialmente para a estada em minha casa, a “galera” junto com minha filha iriam passar a virada do ano em Pratigi, uma praia no sul da Bahia... Na verdade o destino não era a praia em si. O destino era o “Universo Paralello”, um festival de música eletrônica que dura sete dias. Todos estavam empolgadissimos, só se falava deste evento e o tempo todo a turma tentava convencer eu e meu marido a irmos ao festival. Após o natal as barracas foram desmontadas e a “galera” viajou. O silêncio invadiu a casa e eu não conseguia parar de pensar como seria este festival. Qual a idéia que minha geração faz de um festival de música eletrônica? Fala-se de um ritmo “autista”, de altos decibéis, do uso e abuso de extasy, de “raves” que duram dias, de jovens tatuados, cheios de pircing e totalmente alienados. Mas esse não é o perfil de minha filha, nem da “galera” que estava ao meu lado num dos natais mais lindos da minha vida. O perfil da turma é de jovens que trabalham, estudam, lêem, se expressam com fluência, são alegres, unidos e generosos. Dia trinta a noite no silêncio da casa vazia, eu e meu marido decidimos que nosso destino no outro dia pela manhã seria um só: “Universo Paralello.” Carlos (meu marido) foi conseguir uma barraca emprestada, eu assei um lombo com farofa e no dia trinta e um pela manhã estávamos na estrada. Após algumas horas, trechos de estrada mal conservadas, erros de caminho, cansaço e muita expectativa, chegamos. Numa fazenda na beira de um mar quente e cheio de coqueiros, sem água e luz, uma cidade para cinco mil pessoas foi construída. Geradores impulsionavam um som envolvente, nada “autista”, que se espalhava no ar através de competentes Dj’s internacionais. Uma estrutura inimaginável foi construída, um palco central com uma decoração belíssima, banheiros, chuveiros, seguranças, praça de alimentação com várias opções, artesanato, moda e muita gente feliz. Felicidade, esta foi a síntese do sentimento de minha filha e seu grupo de amigos quando nos viram chegando. Fizemos um ceia com o lombo que levei, brindamos, dançamos, dormimos na barraca, conversamos na beira da praia vendo o sol nascer. Tive a certeza que estava fazendo parte de algo novo. Drogas? Sim, claro que percebi que algumas pessoas que estavam lá usavam. Como percebo que algumas pessoas se drogam nos bares e danceterias da moda. Lamentavelmente a droga está presente no cotidiano moderno cabe prepararmos nossos filhos para andar lado a lado com ela sem se envolver. Descobri que o movimento de música eletrônica (hoje são vários festivais durante o ano: Trancendence, Tranceformation, Solaris, entre outros) é organizado, movimenta muito dinheiro, gera empregos e está unindo uma juventude em torno de conceitos importantes como a diversidade, a sustentabilidade, os 3R’s (reduzir, reutilizar, reciclar), a alegria e a generosidade. Revivi a sensação do quanto o preconceito e a desinformação, afastam e conflitam as gerações. Tive a certeza que não podemos ficar a margem das tendências, que vivenciar é ter informação e gerar transformação. Que não basta falar de mudança, temos que ser “aquela metamorfose ambulante” e visitar os universos paralelos.


* Carla Galo é palestrante, e oferece em seu site uma série de palestras "in company", em que aborda temas como Motivação, Técnicas de Liderança, Planejamento, Endomarketing e muito mais.

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